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O conceito de Manic Pixie Dream Girl e depreciação do papel feminino no cinema



Provavelmente se você assistiu 500 dias com ela, já se deparou com o papel cinematográfico da Manic Pixie Dream Girl, em tradução literal, a Garota Maníaca Fada Sonhadora, ou simplesmente MPDG.

Esse termo é utilizado para descrever aquela garota bonita, simpática, bem resolvida sexualmente e taxada como espírito livre, que acaba despertando a atenção e fascínio do personagem principal masculino. Normalmente na trama, o homem está passando por uma situação complicada, seja na família, trabalho ou vida amorosa, e tem sua vida iluminada pela idealização da mulher perfeita na MPDG.

O termo foi criado por Nathan Rabin, um crítico de cinema e música americano, em uma análise do filme Elizabethtown, com o papel feminino principal interpretado por Kirsten Dunst na personagem Claire. Na trama, Kisrten é uma aeromoça que acaba conhecendo Drew Baylor (Orlando Bloom), que acabou de receber a notícia da morte de seu pai e vai a Elizabethtown, para o enterro. No caminho ele acaba se apaixonando por ela. Claire é completamente idealizada e está ali apenas em função de Drew, pois pouco sabemos sobre sua vida pessoal.




Elizabethtown (2005)


Nas palavras de Nathan Rabin, a MGPD é “aquela criatura cinematográfica cintilante e superficial que só existe na imaginação febril dos escritores para ensinar jovens homens profundos, cismados e sentimentais a aproveitar a vida e seus infinitos mistérios e aventuras''. Em 2014, o crítico escreveu um texto se desculpando por criar o termo, que passou a ser criticado por mirar nas particularidades femininas de diversas personagens - afinal, foi criado e estigmatizado por homens.

Portanto, a MPDG é a personagem feminina adorável que existe completamente em função do protagonista homem. Com alguma sabedoria única e misteriosa baseada em alegria de viver, a MPDG está ali para fazer com que aquele pobre protagonista profundo e deprimido aprenda a olhar para a vida de forma diferente e, com isso, consiga sair do seu status melancólico e encontrar a felicidade. O estereótipo da Manic Pixie Dream Girl é definido principalmente pelo seu status secundário e por uma falta de abordagem da vida própria da personagem, sendo mais um reflexo das idealizações masculinas sobre comportamentos e representações femininas.

Como já citado, dois exemplos clássicos da MPDG são Summer de 500 dias com ela e Claire de Elizabethtown, mas encontramos outros exemplos como Penny Lane de Quase Famosos, Sam em Hora de Voltar, Ramona Flowers em Scott Pilgrim contra o Mundo, Clementine de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, Alice em Closer - Perto Demais e, até mesmo em trabalhos mais antigos como a personagem Annie Hall de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa de 1977.




Penny Lane, Summer, Sam e Claire

Essa representação machista demonstra a idealização de uma mulher silenciada na conjuntura patriarcal da atualidade. Ao perceber a dimensão do problema da criação desse estereótipo, Nathan Rabin escreveu um texto pedindo desculpas e afirmou que a MPDG é um rótulo extremamente sexista que enfraquece a luta por representatividade feminina, e que não deveria mais ser usado.

Exemplos dessa problemática também são aplicados no mundo real, com o trabalho de várias mulheres que expõe suas frustrações sobre esse termo como Olivia Gatwood, em sua poesia, Laura Viana, em seu texto para o portal Capitolina e, até mesmo a Natalie Portman que se arrepende de sua representação no papel de uma Manic Pixie Dream Girl.

A sociedade mostra ter um apego por longas e personagens que mostram a problemática das Manic Pixie Dream Girl e o que acaba fazendo com o que a depreciação da mulher nas telonas não seja levado a sério. Essas figuras são bem recebidas por sua aparência ou por serem inteligentes, mas acabam sendo apenas coadjuvantes de personagens masculinos. Tal centralidade nos homens pode parecer inocente, mas fortalece a ideia de superioridade do homem sobre a mulher e um ideal de beleza e comportamento pouco provável de ser alcançado.

Uma mulher deve ser protagonista de sua própria história, com seus próprios sonhos, problemas, alegrias, conquistas e desejos. O homem também deve ser protagonista de sua própria história, mas sem esperar uma mulher para ser sua salvadora. A ficção pode ser fantasiosa, mas a sétima arte não pode continuar fortalecendo ideias que prejudicam a vida de pessoas reais. O cinema precisa oferecer e apresentar uma maior representatividade do real.

Para saber mais sobre o assunto

https://www.youtube.com/watch?v=b_gxo8l9j8s

https://medium.com/@quelmagalhaes/voc%C3%AA-%C3%A9-uma-manic-pixie-dream-girl-c7ffc524d851

https://www.youtube.com/watch?v=17gw46KEYZg

https://zint.online/opiniao/manic-pixie-dream-girl/

https://www.youtube.com/watch?v=IfbH-NHIWRw

https://www.youtube.com/watch?v=XRvv2vPj8pM

Lista de filmes com MPDG: https://www.listchallenges.com/the-definitive-list-of-manic-pixie-dream-girls



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